Protocolos para comunicação de más notícias: SPIKES

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17 de janeiro de 2022

“O método SPIKES é útil porque é curto, de fácil compreensão e concentra-se em habilidades específicas que podem ser praticadas.”

Por Karen Estevam, fundadora e diretora artística da ATO.


Na década de 70 e 80, acreditava-se que as habilidades de comunicação aconteciam de modo intuitivo, entretanto, na atualidade entendemos que apenas o caminho da intuição não é o mais adequado e que esta habilidade exige treino. Para aprimorá-la foram criados inúmeros protocolos, que, na verdade, são estruturas de comunicação que servem como guia e orientam os médicos em conversas desafiadoras.

Durante esta matéria vou retomar alguns trechos da entrevista que fiz com a professora e psicóloga Sandra Mazutti*, na qual ela fala sobre o método SPIKES.


PROTOCOLO CLASS

O CLASS é um protocolo básico que enfatiza as entrevistas médicas. Ele contempla cinco passos essenciais para comunicação em saúde:

PROTOCOLO SPIKES

O protocolo SPIKES é uma variação do CLASS, entretanto valoriza a empatia e acolhimento frente às possíveis reações geradas pela notícia difícil. É um dos protocolos mais importantes já desenvolvidos e os demais acabam sendo uma “adaptação” dele.

De acordo com Sandra Mazutti, o método SPIKES é útil porque é curto, de fácil compreensão e concentra-se em habilidades específicas que podem ser praticadas. Além disso, esse protocolo pode ser aplicado na maioria das situações de divulgação de más notícias, incluindo diagnóstico, recorrência, transição para cuidados paliativos e até divulgação de erro.

A psicóloga ainda explica que o método SPIKES é um roteiro que descreve as partes principais de uma conversa envolvendo a entrega de notícias difíceis. Trata-se de um protocolo ou método de divulgação de más notícias representado pela sigla SPIKES, uma abordagem que compreende as seguintes seis etapas:

ENTENDENDO OS OBJETIVOS E AS ETAPAS

De acordo com o portal PEBMED (https://pebmed.com.br/) o protocolo tem 4 objetivos principais: recolher informações dos pacientes; transmitir informações médicas; proporcionar suporte aos pacientes; induzir sua colaboração no desenvolvimento de uma estratégia terapêutica para o futuro, mesmo que paleativa.

Etapa 1 – Pranejando a entrevista

S – setting

Nesta primeira etapa o médico planeja como contar a má notícia ao paciente e como responder às reações emocionais deles. O local da entrevista também deve ser planejado. Importante lembrar que, muitas vezes, alguns pacientes preferem ter a conversa na presença de algum familiar.

Etapa 2 – Avaliando a percepção do paciente

P – perception

Através de perguntas, o médico tenta perceber o quanto o paciente compreende seu estado atual. A partir das respostas dadas, pode-se corrigir desinformações e moldar a má notícia para o entendimento do paciente.

Etapa 3 – Obtendo o convite do paciente

I – invitation

Alguns pacientes preferem esquivar-se de informações detalhadas sobre sua doença. Se o paciente optar por não saber detalhes, o médico deve se colocar à disposição para esclarecer dúvidas futuras ou para conversar com um familiar, se for a vontade do paciente.

Etapa 4 – Dando conhecimento e informação ao paciente

K – knowledge

É importante que o médico utilize um linguajar de fácil compreensão, evitando expressões duras e frias. A informação deve ser passada aos poucos, certificando-se que o paciente está entendendo o que está sendo dito.

Etapa 5 – Abordar as emoções do paciente com respostas afetivas

E – emotions

Os pacientes podem reagir de formas diferentes, e saber lidar com tais reações é uma das etapas mais difícies na transmissão da má notícia. O médico deve oferecer apoio e solidariedade, é fundamental também dar ao indivíduo o tempo necessário para ele se acalmar.

Etapa 6 – Estratégia e resumo

S – strategy and summary

Antes de discutir os planos terapêuticos, recomenda-se perguntar ao paciente se ele está pronto para prosseguir a discussão e se aquele é o momento.


Estudos mostram que a comunicação entre o médico e seu paciente pode influenciar a adesão ao tratamento e satisfação com a relação estabelecida.

Para finalizar, a professora e psicóloga Sandra Mazutti ressalta que esse método também inclui sugestões reflexivas para os médicos sobre como lidar com sua própria angústia em ser o mensageiro de más notícias.


*Entrevista concedida em 2021. Sandra Regina Gonzaga Mazutti é Mestre em Ciências da Saúde e Especialista em Psicologia Hospitalar e Terapia Cognitiva Comportamental. Coordenadora de Serviços de Apoio ao Estudante e Docente do Curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi – São Paulo/SP.

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