Novas perspectivas: Mestrado Profissional de Inovação em Saúde

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Introdução

Pouco tempo se passou desde que iniciei o Mestrado de Inovação em Saúde, mas sinto que já se passaram longos meses de estudos, aprendizados e desafios.

No primeiro artigo que escrevi, sobre as primeiras impressões, mencionei o quanto o mundo acadêmico é desafiador e hoje falo isso com mais propriedade ainda, acredito, inclusive, que esse sentimento irá permanecer por todo Mestrado.

Neste novo artigo compartilharei as percepções em relação às idas a Barretos para estudar, os desafios encontrados e a novidade: já fui sorteada para apresentar o meu projeto, mas calma que é “só” um seminário para apresentar o projeto e já ir treinando para quando for defendê-lo para a banca.

Além disso, farei um resumo de que como foram as aulas nos meses de fevereiro e março e já adianto, o aprendizado e as vivências foram incríveis. Espero que gostem!

Desenvolvimento

Encontro 02

Fevereiro foi mês de abordar o assunto que eu mais amo: Simulação em Saúde, que faz parte da disciplina Disseminação do Acesso à Saúde, tendo como professores coordenadores um dos profissionais que estava na minha banca para entrada no mestrado, o Dr. João Luiz Brisotti e minha co-orientadora de projeto, Profa. Dra. Aline Junqueira Bezerra.

O objetivo dessa disciplina era:

  1. Conhecer a conceituação de acesso à saúde nos âmbitos das características da população e a disponibilidade organizacional e geográfica do sistema de saúde.
  2.  Compreender os instrumentos de organização e integração de ações e os serviços de saúde na formação da rede regionalizada e hierarquizada de assistência.
  3. Estabelecer modelos de gestão em saúde com base nas diretrizes e estratégias de implementação da Rede de Atenção à Saúde.
  4. Compreender os determinantes individuais que interferem no acesso à saúde, (características da população, renda, cobertura do seguro saúde, atitudes frente ao cuidado com a saúde, estrutura social e principalmente a informação).
  5. Desenvolver métodos de avaliação e indicadores de monitoramento da disponibilidade de recursos de saúde (tendo como limitantes o tempo para acesso aos recursos de saúde e o território – espaço geográfico).
  6. Conhecer e Desenvolver métodos especiais de disseminação e aperfeiçoamento de serviços de saúde (capacitação, simulação e reciclagem profissional).
  7. Aplicar metodologia de telemedicina como forma de ampliação do acesso à saúde sob aspectos de diagnóstico e manejo clínico.

Partindo desses objetivos, tivemos uma aula com Dr. Brisotti, falamos sobre matriciamento e o impacto de projetos matriciais, além de, ao final da manhã, elaborarmos, em grupo, o nosso próprio projeto de matriciamento.

E o que é matriciamento? De acordo com o Ministério da Saúde é: “Um modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica”. O matriciamento visa transformar a lógica tradicional dos sistemas de saúde: encaminhamentos, referências e contrarreferências, protocolos e centros de regulação, por meio de ações mais horizontais que integrem os componentes e seus saberes nos diferentes níveis de assistência (CHIAVERINI, 2011). Hoje, a principal estratégia desenvolvida para apoio matricial é a equipe de Nasf (núcleo de apoio à saúde da família). Entre os instrumentos do processo do matriciamento estão: elaboração de PTS, interconsulta, consulta conjunta, visita domiciliar conjunta, grupos, educação permanente, abordagem familiar, entre outros.

A parte da tarde foi prática e para abordamos o tema Simulação em Saúde! Três materiais prévios nos foi indicado para leitura desse tema específico, são eles:

– Cenário em simulação realística em saúde: o que é relevante para a sua elaboração?

– Impacto da metodologia de simulação realística, enquanto tecnologia aplicada a educação nos cursos de saúde

– Simulação clínica com dramatização: ganhos percebidos por estudantes e profissionais de saúde

Não preciso dizer que o terceiro artigo devorei rapidamente e já estou utilizando para produção de conteúdo, aproveito a oportunidade para trazer um trecho pertinente do artigo:

A simulação com recursos de dramatização tem sido utilizada como uma das estratégias de ensino, por meio da simulação clínica, tanto na formação de futuros profissionais quanto na capacitação daqueles que já se encontram em exercício profissional. Quando realizada dessa forma, consegue, a um custo razoável, oferecer ao aprendiz, em ambiente seguro, a possibilidade do treino de habilidades e até mesmo das competências, por meio da criação de cenários das mais diversas complexidades. Além disso, realisticamente, reproduz um encontro com o paciente (simulado), o qual pode contribuir sobremaneira para os objetivos de aprendizagem traçados. Oferece ainda a possibilidade de feedback pelo paciente simulado, o que colabora e enriquece o processo de ensino-aprendizagem.

A Profa. Dra. Aline Junqueira Bezerra comandou as atividades simuladas do período da tarde, fizemos dois cenários de simulação e para encerrar elaboramos o nosso próprio cenário, em grupo.

Encontro 03

O mês de março foi para abordar o tema Promoção à Saúde, tendo como coordenador o Prof. Dr. Sérgio V. Serrano e como convidada a Profª Drª Ana Maria Girotti Sperandio, que nos deu uma injeção de ânimo, esperança e nos fez perceber a importância de sermos responsáveis por promover saúde.

Os objetivos estabelecidos para esta disciplina foram:

1. Identificar as diferentes concepções de Saúde

2. Compreender as diferentes formas de conceituar e operacionalizar a Promoção à Saúde

3. Compreender o conceito de determinação social no processo saúde/doença/cuidado

4. Conhecer a Política Nacional de Promoção à Saúde e outras políticas correlatas (Ex.: PNH, PNAB, PNPIC etc.)

5. Propor estratégias para a Promoção à Saúde utilizando métodos inovadores com foco em estratégias do Planejamento Urbano para o desenvolvimento da cidade saudável.

Como materiais bibliográficos prévios tivemos uma enxurrada de conteúdo que foi disponibilizado pelos docentes. Para leitura obrigatória foram 6 artigos/materiais, para leitura complementar: 27, sim, vinte e sete materiais, entre artigos, livros, matérias, relatórios, leis etc., além de alguns vídeos que não coloquei nessa conta.

Na parte da manhã fizemos uma visita técnica ao bairro São Francisco, em Barretos, o intuito era aplicar a estratégia do Mapa dos Desejos. Iniciamos conhecendo a UBS local, depois nos dividimos em duplas para caminhar pelo bairro, fazer registros fotográficos e identificar aspectos relevantes para abordarmos o tema cidade saudável.

Após essa caminhada embaixo de muito sol, conversei com duas moradoras locais, e, em tom descontraído fui realizando as seguintes perguntas:

Durante essa conversa, pedi para que elas colocassem as figuras do que acreditavam faltar para o bairro ser considerado saudável, e assim elas foram fazendo:

Ao final, percorremos o bairro de carro pra ter um olhar mais macro do bairro. Todos os alunos dos Mestrado fizeram a mesma dinâmica, em ordens diferentes.

Para aplicação do Mapa dos Desejos, aproveitamos que o sábado era dia de campanha de vacinação na UBS, o que facilitou a participação da população. Encerramos o dia compartilhando os achados na visita técnica e elaboramos um relatório final para entrega de propostas para melhoria do bairro pensando em um barro saudável.

Mas, afinal, o que é saúde?

A partir da aula de introdução que tivemos, que foi realizada online antes do encontro presencial da turma, com a leitura prévia disponibilizada e refletindo acerca do que é saúde, ficou claro que saúde vai além da ausência de doença, é preciso considerar o bem-estar físico, mental e social e tudo que engloba a totalidade do ser humano.

Uma das descrições do que é saúde que mais fazem sentido para mim e no contexto aqui abordado é a da Carta de Ottawa, de 1986 que explica que saúde é resultado de uma conjunção de fatores físicos e sociais, a serem construídos com a participação ativa dos indivíduos. Portanto, a saúde é transversalizada por conceitos abrangentes de bem-estar que incluem paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade.

Corroborando com essa descrição presente na Carta de Ottawa, a descrição da Organização Mundial da Saúde, em 1946, definiu saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. Pensando nisso é importante analisar o corpo, a mente, inclusive o contexto social em que o indivíduo está inserido para melhor conceituar saúde.

Lendo e pesquisando um pouco mais sobre a pauta Saúde e retomando algumas falas na aula de abertura, lembro do Conceito Ampliado de Saúde, que, em seu sentido mais abrangente, explica que a saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde, indo de encontro ao slide que nos foi apresentado sobre Condições e recursos fundamentais para a saúde, acrescentando ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça, equidade.

Conclusões e reflexões

Esse terceiro encontro foi um “puxão de orelha” e me fez refletir o quanto eu participo, contribuo e sou responsável por um bairro e por uma cidade saudável. Precisamos estar mais atentos e participantes ativamente da construção de uma sociedade mais saudável.

Uma indicação de leitura para entender mais sobre cidade saudável é o e-book da Profa. Ana Maria Girotti Sperandio, se você possui Kindle ou assina a amazon, este material está disponível gratuitamente, veja:

Se você segue meu perfil particular no Instagram @karenestevamm, viu que, enquanto lia alguns dos materiais obrigatórios que mencionei acima, fiz uma série de stories sobre o assunto e mostrando dados da última pesquisa OXFAM BRASIL/DATAFOLHA “Percepções sobre desigualdades no Brasil”, recomendo fortemente a leitura. A Oxfam Brasil apresenta os resultados de sua quarta pesquisa de percepção, realizada em conjunto com o Instituto Datafolha. A análise dos dados presente no relatório visa contribuir para o debate público sobre a redução das desigualdades no Brasil.

Veja prints dos stories e logo após, compartilho a pesquisa realizada em 2022, basta clicar no link e baixar o material.

Se você tem interesse no assunto, baixe o relatório da pesquisa aqui:  https://drive.google.com/file/d/1mHrWee_C3DI7D1YWLMbQN_wR1ED7BuL6/view?usp=share_link

Novas perspectivas e desafios

Em cada encontro do mestrado ou em datas próximas me reuni com meu orientador do projeto, no qual estamos elaborando uma revisão integrativa de literatura e neste processo já passei por várias barreiras e desafios.

O primeiro deles é que não leio e não entendo inglês, o que dificulta demais o processo de leitura dos artigos, aumentando a complexidade da pesquisa e claro, aumentando o tempo par elaboração do artigo.

Como mencionei na introdução, fui sorteada para apresentar o meu projeto para a turma, minha apresentação dia 19 de maio, tenho 30 minutos para “vender o meu projeto” e estar preparada para as críticas, é assim que treino para a futura defesa na banca, no ano que vem.

O intuito é apresentar toda a ideia do projeto: qual foi meu mote, porque decidi o tema escolhido, em que momento do cronograma estou e para onde vou ao longo dos próximos 20 meses. Será avaliado o domínio do assunto, clareza, respeito e utilização do tempo cedido, clareza nas informações passadas, coerência da fala e dos slides apresentados (ou de outras estratégias a serem apresentadas, não temos obrigatoriedade de fazer uma apresentação “apenas” formal”), dentre outros pontos elencados que saberei mais próximo da data.

O segundo desafio é, de fato, imergir no universo acadêmico: realizar as buscar nas plataformas científicas de saúde corretamente, aprender a utilizar ferramentas para auxílio nesse processo como ENDNOTE e outras.

Um outro desafio que enfrento é a distância, Barretos fica a mais de 423km da capital paulista, de ônibus são quase 7 horas de viagem, então lido com a viagem, noite mal dormida, estadia em hotel, espera para retornar a São Paulo, pois os ônibus têm horários bem específicos, para mim, este último desafio é dos menores, no entanto, não deixa de ser, não é mesmo?! Nos dias de mestrado viajo a quinta a noite inteirinha, chego em Barretos sexta-feira pela manhã, tomo deliciosa café da manhã e vou até o hotel par adiantar meu check-in, quando consigo, descanso um pouco para retomar, ainda na parte da manhã, os estudos ou trabalho. Almoço perto do hotel e no começo da tarde vou para a instituição, estudar e me reunir com meu orientador do projeto. Na sexta são apenas os seminários, dois colegas apresentam seus projetos.

No sábado sim, aula o dia todo, das 8h30 às 18h, após o término, como já realizei o checkout no hotel, vou para o shopping de Barretos, sento-me em uma mesinha em um bar charmoso e acolhedor (que tem uma tomada estratégica) e ali fico em torno de quase 4 horas, estudo, trabalho, adianto as atividades do próprio mestrado, leia, me alimento, tomo um delicioso chopp e viajo a noite inteira de volta a São Paulo. Essa é a rotina mensal de um “fim de semana” de mestrado, intensa, mas gostosa.

Encerro essa artigo-relato com a esperança que você que leu até aqui tenha aproveitado os conteúdos e informações que trouxe e possa refletir acerca de saúde, cidade saudável e desigualdades e, se possível, leia o relatório que disponibilizei. Se encontrar qualquer dificuldade ou quiser compartilhar algo comigo, mande-me um e-mail: karen@atosimulacaoclinica.com.br.


Referências:

– Guia prático de matriciamento em saúde mental / Dulce Helena Chiaverini (Organizadora) … [et al.]. [Brasília, DF]: Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011. 236 p.; 13×18 cm.

– Williams B, Song JJY. Are simulated patients effective in facilitating development of clinical competence for healthcare students? A scoping review. Adv Simul. 2016;1(6):3-9. doi: 10.1186/s41077-016-0006-1

– Lin EC, Chen SL, Chao SY, Chen YC. Using standardized patient with immediate feedback and group discussion to teach interpersonal and communication skills to advanced practice nursing students. Nurse Educ Today. 2013 Jun;33(6):677-83. doi: 10.1016/j.nedt.2012.07.002.

– Negri EC, Mazzo A, Martins JCA, Pereira Junior GA, Almeida RGS, Pedersoli CE. Clinical simulation with dramatization: gains perceived by students and health professionals. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017;25:e2916. [Access 07/04/2023]. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.1807.2916.

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