Diário de bordo – O que é e por que deve começar o seu?

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24 de setembro de 2021

Os diários de bordo remontam alguns séculos. Como o próprio nome sugere, a sua origem relaciona-se a navegação marítima, eles eram usados como instrumento de orientação dos navegantes e comandantes das expedições.

Eu sempre amei diários, cadernos, agendas, canetas coloridas, meu sonho era tem uma coleção da Faber Castell de 48 cores, e claro, ir em papelarias ainda é uma excelente opção de passeio.

O hábito de ter um diário para as anotações pessoais sempre fez parte da minha vida, quando iniciei no teatro e o professor pediu para que fizéssemos um “Diário de Bordo” da peça que íamos fazer pelos próximos meses, fiquei extremamente empolgada!

Mas o que é um Diário de Bordo?

Os diários de bordo remontam alguns séculos. Como o próprio nome sugere, a sua origem relaciona-se a navegação marítima, eles eram usados como instrumento de orientação dos navegantes e comandantes das expedições.

Sendo assim, Diário de Bordo é uma expressão utilizada para referir-se ao relatório sobre determinada atividade ou processo, onde ficam registrados os acontecimentos mais importantes.

No teatro, por exemplo, é mais comum ter diário de bordo nas peças de maior duração, assim podemos fazer toda a concepção da personagem, anotar o que vier nos momentos de brainstorming, além de acompanhar a trajetória e evolução do processo cênico.

Na live que aconteceu dia 21/09/2021, no Instagram da ATO (@atoresprofissionais), conversei com a atriz Dany Melo, que iniciou as simulações com a ATO. Dany nos contou que sentiu necessidade de criar um diário específico para as simulações, que ela chama de Diário de Processos. Diário de Bordo e Diário de Processos são a mesma coisa. Aqui, apelidamos o Diário de Processos carinhosamente de DP.

Vamos conhecer o mote de Dany a criar o seu DP e, ao final da matéria, que tal colocar a mão na massa…digo, no papel? Já separe um caderninho para anotar as dicas de como iniciar o seu!

– Dani, porque iniciou um DP das simulações? Você sempre faz um para seus trabalhos?

Gosto de fazer diário de processo a cada trabalho mais duradouro, como peças de teatro ou curtas-metragens, por exemplo. Iniciei o meu DP para simulação realística porque percebi que estava diante de um material muito rico de trabalho e possibilidades de aprendizado. Além disso eu me afinizei muito com essa vertente de atuação, foi um encantamento mesmo, então decidi organizar essas informações e impressões em um local exclusivo.

– Por que ter um DP?

Atuar como paciente simulada é participar de uma ferramenta de ensino e além de ser uma atuação muito específica, ela é também muito rápida. Não estou diante de uma peça teatral e sim de uma turma de alunos da área da saúde (e, portanto, não atores) e em questão de minutos devo representar o caso com a maior fidelidade possível. Poder ter essas informações à mão, fora da tela do celular, é de uma praticidade enorme para mim e registrar minhas impressões como em um processo de teatro mais convencional, agrega muito para meu desenvolvimento profissional.

– Com certeza muitos artistas já querem iniciar um DP, quais dicas você daria?

Podemos começar com um registro de como foi aquele dia de trabalho, desde fatos divertidos que aconteceram como também reações inesperadas (menos construtivas) sobre humanização no atendimento, comportamento de alunos e de colegas, por exemplo.

Começar como um desabafo, aquele tal do “preciso contar para alguém”, só que escrito. Eu comecei o meu oficialmente no dia que tivemos uma reunião sobre um cliente novo que a ATO iria prestar serviços e eu fui escalada para compor a equipe do novo projeto. Fui então tomando nota da “ata” da reunião. Nesse dia recebi três casos diferentes, para interpretar dias depois, portanto, três perfis, diagnósticos e histórias diferentes.

Fiquei mais tranquila ao sistematizar essas informações e pensar em poder consultar da forma mais rápida entre uma atuação e outra, então lancei mão de canetas coloridas e tomei nota dos perfis e das dúvidas. Depois de realizar o trabalho, anotei meus aprendizados, minhas impressões e lógico, meus desabafos. E não parei mais. Hoje colo até pedacinhos de papel utilizados em algumas atuações e é muito interessante o carinho que adquiri por essas personagens.

– Para quem está começando e tem dúvidas do que anotar e como, nos dê alguns exemplos do que faz em seu DP

Anote características da personagem, destaque a queixa principal (com setinhas mesmo, cores de caneta diferentes), setorize as anotações por temas como: histórico familiar, hábitos e vícios, antecedentes clínicos, reações que a paciente deve ter durante o exame físico, por exemplo. Importantíssimo: criar data de nascimento a partir da idade informada. A gente não imagina até acontecer, mas os alunos acabam perguntando e nunca vi ninguém “na vida real” não saber quando nasceu. É de querer chorar de nervoso fazer a continha ali na hora. (Dica valiosa, anotou, né?!)

– O que um DP acrescenta na sua carreira e porque você indica os artistas a fazerem também?

O registro no DP me ajuda a absorver o caso, a compreender o meu papel dentro da atividade artística voltada para a educação, a analisar posturas, minhas e de meus colegas, compreendendo facetas do teatro corporativo também (sempre acabo fazendo análises da minha formação anterior em Recursos Humanos) e a me apropriar mais de personagens quando casos se repetem, além de facilitar minha relação com as atuações de situações mais delicadas, como é o caso das comunicações de más notícias. Tudo isso me ajuda muito não só na memorização, mas na percepção de algumas nuances mais sutis do caso, da personagem e da experiência humana, que é o material de trabalho de toda atriz e todo ator. Um diário para uma montagem convencional trata de um único caso, por assim dizer, mas o de simulação, com tamanha diversidade de camadas de estudo, vai acabar ficando cheio rapidinho. É uma atenção que devemos dar enquanto profissionais e é um carinho que proporcionamos a nós mesmos, porque trabalhar com simulação realística requer grande capacidade de adaptação, raciocínio rápido e constante improvisação. Costumo dizer que é trabalho de atuação na veia sem anestesia: quem fizer uso só tem a ganhar.

Veja alguns registros do DP da Dany:


Como não estou atuante nas simulações e sim à frente da empresa, o meu diário de bordo é referente a todo processo empresarial: operacional e administrativo. Faço anotações de reuniões, o que devo melhorar enquanto líder, enquanto artista que empreende, anoto minhas vitórias, avanços e minhas angústias. Dedicação é a palavra! Nem sempre consigo anotar e tudo bem, um dia de cada vez e seguimos. Mas registrar é sempre importante para podermos consultar no futuro e ter um histórico do processo!


Chegou a hora! Vamos iniciar o seu Diário de Bordo ou Diário de Processos (chame como você preferir). Ah, você pode usar essas dicas para criar um Diário de Bordo para outras áreas, ok?!

Anote tudo, vou passar dicas gerais e específicas para simulação, aproveite!

Dicas gerais para iniciar o seu Diário

1. Separe um caderno. Isso mesmo, evite criar diários de processos em meios digitais. Nosso cérebro aprende e arquiva mais informações quando escrevemos no papel. Aproveite para colorir, colar, escrever de formas diferentes, use a criatividade. Tire um tempinho para dedicar-se na concepção do seu diário, ele irá te seguir por um tempo neste processo.

2. Dê preferência para caderno de brochura e capa dura. Eles terão maior durabilidade e segurança nos momentos de transporte e manuseio.

3. Identifique o seu diário. Coloque sempre seus dados pessoais ou informações básicas na primeira página: nome, qual o projeto, peça a que este diário se destina, nome da empresa, escola ou cliente, nome do diretor, além da cidade/local e o ano.

4. Não passe a limpo! Nunca passe a limpo o seu diário de bordo. Ele deve sempre conter as informações originais. Mesmo que coisas saem erradas ou você anote de um jeito que não curtiu, o ideal é que o registro seja mantido em seu formato original, mostrando que você e o trabalho foram evoluindo e os erros foram sendo corrigidos.

5. Siga uma cronologia. É legal numerar as folhas para manter a fidedignidade da cronologia dos acontecimentos. Então aqui já vai mais uma dica: Sempre coloque data, a cada anotação!

6. Evite escrever a lápis. As informações podem ser apagadas, portanto, prefira canetas, lápis coloridos, etc (mas se você é a pessoa que ama escrever de lápis, vai fundo!).

7. Não deixe folhas em branco. Evite pular folhas, o ideal é que as anotações sejam sequenciadas.

Dicas específicas para iniciar o seu Diário de Simulação

1. Anote a empresa que está te contratando, ou instituição, além do local da simulação. Se quiser, anote aspectos do local que te chamaram atenção e até mesmo como é a dinâmica da empresa.

2. Se recebeu o caso com antecedência, faça a concepção da personagem direto no diário. Aproveite para estudar o caso e anotar as dúvidas. Anote alguns aspectos e características principais daquela personagem. Faça isso para todas as informações que são mais comuns de serem perguntadas: Profissão, estudo, estado civil, religião, local onde mora.

3. Pense minimamente sobre o emocional da personagem. Muitas vezes, em casos no qual o objetivo é estruturação de anamnese e exame físico o lado emocional não é tão relevante, mas saiba minimamente se a paciente é mais calma, mais ansiosa, se é ansiosa, identifique ou crie o motivo, anote para não esquecer e para passar a mesma informação para os estudantes.

4. Se recebeu o caso na hora, anote depois. Tome nota do caso que interpretou e como se preparou, se teve desafios naquela atuação ou concepção imediata.

5. Pense no figurino. Mesmo sendo um paciente simulado, que, quase sempre será próximo ao seu perfil, identifique aspectos que possam ajudar nessa concepção, por menor que seja. Baseie-se na profissão, na condição social, no momento de vida atual, na queixa e no contexto e anote o que pensou! Se for receber o caso na hora utilize roupas mais neutras (dica extra!).

6. Pense se a personagem precisará de maquiagem. Desde maquiagem para envelhecimento a maquiagens para reproduzir doenças e sintomas corporais, leia o caso com atenção para perceber os detalhes e destaque-os.

7. Descubra o corpo daquele paciente. Se terá uma dor abdominal intensa, terá dificuldades para andar de forma ereta, por exemplo. Pense nisso e registre para construir a personagem e lembrar como deve fazer.

8. Anote e aproprie-se da queixa do paciente simulado. Ele está sendo atendido por qual motivo? Dica: grife, dê destaque!

9. Atenção ao exame físico. Anote se terá algum sinal positivo e como deve reagir.

10. Anote suas emoções e sentimentos! Sim, é importante. Como se sentiu fazendo a simulação, pontos que chamaram sua atenção, como se sentiu ao realizar o exame físico e por aí vai (não esqueça de anotar as angústias, caso as sinta durante o processo).

11. Anote melhorias e evoluções. Tome nota do que identificou que precisa ser aperfeiçoado e do que sentiu que houve avanço.

12. Destaque os aprendizados! Dê uma atenção especial para o maior aprendizado do dia, da personagem ou da simulação!

Ufa, dicas não faltam, e sempre terão mais. Por enquanto, está com insumos mais que suficientes para iniciar o seu Diário de Bordo de Simulação (ou de outro projeto). Se o fizer, registre e poste nas redes sociais marcando a @atoresprofissionais e a @danyg.melo. Será incrível fazer parte do seu DP!


Apoio na concepção da matéria e entrevistada: Dany Melo

Atriz, arte-educadora e Idealizadora do projeto Mulheres no Ato. Graduada em Gestão de Recursos Humanos, com especialização em Docência do Ensino Superior, formada como atriz pela SP Escola de Teatro e pelo Estúdio de Treinamento Artístico – ETA. Atualmente cursando MBA em Educação Corporativa.


Texto escrito por: Karen Estevam, fundadora da ATO.

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