A simulação clínica com atores é um segmento relativamente novo aqui no Brasil, mas vem conquistando destaque de maneira exponencial em virtude dos benefícios proporcionados à educação na área da saúde. Esta estratégia de ensino permite que os alunos pratiquem habilidades e técnicas em um ambiente seguro e controlado, contribuindo para um maior aprendizado durante a vida acadêmica, redução de possíveis erros médicos e melhoria da qualidade do atendimento ao paciente, tudo isso com a utilização da metodologia do paciente simulado, na qual atores e atrizes interpretam pacientes ou membros da família e equipe, simulando, assim, uma consulta médica ou situação presente no âmbito da saúde.
Mas engana-se quem pensa que os únicos beneficiados são os alunos e a população em geral, em decorrência da elevação da qualidade da assistência à saúde. Segundo o pesquisador Emerson de Barros Rossini, graduado em Artes Cênicas pela USP e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA, os benefícios da Simulação Clínica vão muito além da capacitação profissional. No que se refere aos atores, ele identificou que estes profissionais têm a sensação de poder interferir diretamente na melhoria do atendimento médico: “um sentimento de participação social direta proporcionada pela profissão de ator.”
Diante do exposto, muitos atores e até mesmo não atores têm demonstrado interesse, mas não sabem como ingressar e começar a trabalhar com simulação clínica. Por isso, detalhamos a seguir alguns critérios apontados pela fundadora da ATO, Karen Estevam, considerados importantes para quem deseja trilhar o caminho da simulação clínica.
Para participar de uma simulação é importante ter em mente que essa pessoa representará um papel, ou seja, irá retratar uma história fictícia naquele momento. Para isso, utilizamos muitos recursos do teatro e da atuação para nos auxiliar na construção desse paciente simulado.
O teatro oferece uma variedade de ferramentas e técnicas que podem aprimorar essa representação. Além disso, o estudo do teatro aprimora a consciência corporal e vocal, permitindo que os atores se conectem com o corpo e utilizem expressões faciais, gestos e posturas de maneira autêntica.
Além disso, o teatro também oferece a oportunidade de explorar a narrativa e a história do paciente. Através de técnicas de improvisação, pesquisa e trabalho de personagem, os atores podem mergulhar nas histórias pessoais dos pacientes, compreendendo suas jornadas, desafios e transformações.
Então, é de extrema importância que, quanto mais estudo e preparo enquanto ator/atriz você tiver, teoricamente, mais fácil será sua inserção nas simulações.
2) Atente-se e estude o seu corpo!
É muito importante entendermos nosso corpo e nossos limites. Para um ator, seu corpo é um instrumento de trabalho, logo, atores e atrizes tendem a compreendê-lo melhor, tendo maior domínio e consciência do seu corpo. A consciência corporal desempenha um papel fundamental na representação de um paciente, de forma que esta seja feita de maneira autêntica e precisa. Quando um ator assume o papel de um personagem doente, lesionado ou com alguma questão de saúde que o aflige, é essencial compreender e incorporar a experiência física e emocional dessa condição.
A consciência corporal permite que o ator explore e entenda as nuances do corpo enfermo, desde a postura até os gestos e movimentos específicos. Ao cultivar uma conexão íntima com o corpo do paciente, o ator é capaz de transmitir com mais veracidade as sensações e limitações físicas que a doença ou lesão impõem.
Além disso, a consciência corporal permite ao ator compreender as mudanças psicológicas e emocionais que ocorrem em um paciente. Através da exploração da linguagem corporal e expressões faciais, o ator pode transmitir a dor, a angústia, a frustração ou a esperança que acompanham uma condição de saúde desafiadora.
Ao compreender e incorporar a experiência física e emocional do paciente, o ator pode oferecer uma interpretação respeitosa e genuína, tendo, inclusive, uma melhor compreensão das complexidades da condição retratada.
3) Entenda que você nunca será protagonista!
O ator desempenha um papel crucial no treinamento de estudantes e profissionais da área da saúde. No entanto, é importante destacar que, nesse contexto, o ator não é o protagonista da situação.
Quando um ator é escalado para representar um paciente, seu papel é fornecer um cenário autêntico e interagir com os profissionais de saúde ou estudantes. O foco principal está nas habilidades e no aprendizado dos envolvidos, enquanto o ator atua como uma peça fundamental nesse processo.
O ator deve se esforçar para ser o mais realista possível, transmitindo sintomas, emoções e comportamentos condizentes com o cenário apresentado. Essa representação precisa e autêntica é essencial para que os participantes desenvolvam habilidades de comunicação, empatia e tomada de decisões, bem como para que pratiquem o manejo de diferentes situações clínicas.
É fundamental lembrar que, apesar de sua importância na simulação, o ator não é o foco principal da situação. Seu papel é auxiliar no aprendizado e fornecer uma experiência realista para os profissionais envolvidos. O objetivo é capacitar os participantes a lidar com situações desafiadoras e aprimorar suas habilidades, para que possam oferecer um cuidado mais efetivo e seguro aos pacientes reais.
4) Dedique-se em entender este universo!
A simulação clínica é um universo inteiro de possibilidades. É necessário um aprofundamento nesse tema.
O ator precisa compreender os objetivos do cenário de simulação e os comportamentos esperados dos participantes, deve também estar familiarizado com as técnicas de atuação específicas da simulação clínica, como a capacidade de reagir de forma realista às perguntas e ações dos participantes, manter uma comunicação eficaz e autêntica, adaptar seu comportamento de acordo com as respostas dos profissionais e improvisar de forma estratégica. Essas habilidades ajudam a criar um ambiente de simulação envolvente e desafiador, proporcionando uma oportunidade valiosa para o aprendizado dos estudantes.
Então é necessário o estudo e claro, a familiarização com essa estratégia de aprendizagem por isso, siga pessoas, profissionais e empresas que falam sobre o assunto. A ATO é uma delas, já realizamos lives informativas, palestras, treinamentos e estamos trazendo muito conteúdo sobre o assunto. Empenhe-se em desbravar o mar de possibilidades que é a simulação realística em saúde.
5) Entenda que nem todo artista tem perfil para este trabalho.
A atuação em simulações clínicas exige habilidades específicas que vão além das técnicas gerais de atuação, por isso, nem todo ator possui perfil para essa função.
A comunicação eficaz, por exemplo, é uma competência-chave para o ator em simulações clínicas. É preciso ser capaz de se expressar de forma clara e coerente, tanto verbalmente quanto não verbalmente, transmitindo informações essenciais e interagindo de maneira realista. Outro aspecto importante é a capacidade do ator de fornecer e receber feedback, sendo preciso, assertivo e empático. Isso requer uma mentalidade aberta, disposição para aprender e habilidade de se adaptar às situações e orientações recebidas.
Muitas vezes o ator pode ser um excelente artista de palco, mas para o cinema nem tanto, ou vice-versa. Alguns artistas são melhores nos musicais, outros nem pensar. Há os que se dedicam e buscam entender as necessidades e habilidades que aquele trabalho pontual exige e corre atrás…Na simulação, o raciocínio é basicamente o mesmo, o ator de simulação é o artista que entendeu claramente qual o objetivo e dinâmica da simulação, que consegue ser “camaleão” em questões de segundos, que consegue fazer um improviso estruturado sem comprometer o andamento da simulação.
É por isso que é muito importante a seleção dos atores com perfil adequado para garantir uma experiência de simulação clínica de qualidade, que proporcione um treinamento eficaz e realista aos profissionais e estudantes da área da saúde.